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Mastite e leite
A mastite é a doença de maior impacto econômico nos rebanhos leiteiros de todo o mundo. A redução na produção de leite é consideradi o fator individual mais importante em relação aos prejuízos causados pelas inflamações clínica e subclínica da glândula mamária. Os produtores devem estar sempre atentos ao rebanho, lembrando que esta é uma enfermidade que, na maioria dos casos, não apresenta sinais clínicos visíveis.
Mesmo quando ela está invisível a olho nu, os prejuízos acontecem e por isso que a mastite é a doença mais temida pelos produtores de leite.
De uma forma geral, ainda existem muitos produtores que acreditam que os prejuízos da mastite sejam maiores na mastite clínica, porque é quando há de se desembolsar algum dinheiro para poder realizar o tratamento. No entanto, essa não é a realidade. Cerca de 14% desses prejuízos estão relacionados ou à morte de alguns animais ou ao descarte prematuro, por exemplo, as vacas mamiteiras, que são as que contraem mastite constantemente e que acabam tendo de ser eliminadas do rebanho; 8% dos prejuízos são devidos ao descarte do leite: após o tratamento da vaca, é preciso respeitar um período de descarte do leite, e isso é prejuízo no bolso do produtor; e mais 8% relativos ao tratamento, ou seja, ao desembolso com o produto e a assistência veterinária. Esses são os prejuízos da mastite clínica. Somando essas porcentagens, se atinge quase 30% de prejuízo. Os outros 70% são decorrentes de perda da produção, devido à mastite subclínica. Uma vaca com essa modalidade da doença pode diminuir a sua produtividade. Nesse caso, a estimativa é de que uma vaca saudável, com cerca de duzentos mil na Contagem de Células Somáticas (CCS) possua poucos quartos mamários infectados, aproximadamente 6%, quantidade que não afeta a produção. No entanto, à medida que essa vaca aumenta sua CCS reflexos negativos aparecerão. Ao atingir um milhão e quinhentos mil na CCS representa quase 50% de quartos mamários infectados, o que significa perda de quase 30% na produção. Em se tratando de uma fazenda com produção diária de mil litros de leite, esse percentual representa uma perda de trezentos litros, prejuízo de aproximadamente trezentos reais por dia.
Mastites clínica e subclínica e tratamento
A mastite é uma doença complexa e dispendiosa para a cadeia produtiva do leite, resultado da interação entre o agente causador, o próprio animal, o ambiente e o manejo. Uma série de fatores pode ocasionar a enfermidade nos quadros clínico ou subclínico, que são as duas formas em que ela se apresenta. A diferença entre essas formas está simplesmente em como se é feito o diagnóstico. Enquanto a clínica é identificada visualmente, a subclínica depende de exames. Normalmente possuem a mesma causa e as bactérias também são as mesmas. No entanto, a bactéria que se instalou de forma mais agressiva, a ponto da vaca não conseguir combatê-la, causa a modalidade clínica; a subclínica normalmente é causada por bactérias privilegiadas pela adaptação recíproca com o úbere. A vaca tentará controlar mandando células de defesa para combater a invasão, ou seja, a enfermidade está ocorrendo, mas nenhum sinal é manifestado para o produtor. Por isso a modalidade subclínica é a que causa os maiores prejuízos.
O pecuarista deve atentar ao fato que na realidade vaca é o grande decisor se a mastite é clínica ou subclínica. Um animal com sistema imunológico adequado, que não sofre stress, que está bem nutrido e que possui células de defesa em quantidade suficiente, irá responder muito bem à infecção e normalmente não manifestará a mastite clínica; ela irá manifestar na maioria dos casos a subclínica, e às vezes nem isso, pois o próprio animal consegue combater as bactérias antes mesmo delas infectarem o peito de forma agressiva.
Mas um dos grandes problemas da mastite é a alta prevalência silenciosa nas propriedades leiteiras. Estima-se, no Brasil, que, para cada vaca com mastite clinica, existam entre quinze e quarenta vacas com casos subclínicos da doença.
Ainda é comum que o produtor considere que a mastite clínica é a que ocasiona mais prejuízos. Todavia, conforme considerado, a quantidade de vacas acometidas pela subclínica é muito maior. Como o pecuarista não consegue identificar facilmente essas ocorrências, muitas vezes não percebe que a produtividade da fazenda e, consequentemente, sua lucratividade, poderiam ser maiores, mas estão limitadas pela doença. A partir da CCS e do California Mastitis Test (CMT) é possível estabelecer uma relação: uma vaca com CCS entre 500 mil e um milhão produz cerca de 20% menos de seu potencial pleno. Nesse sentido, por exemplo, uma vaca que tenha potencial de produzir dezoito litros diários de leite, mas produz quinze porque está com mastite, não irá gerar o lucro esperado. Multiplicando pela quantidade de vacas infectadas no rebanho, descobre-se o quanto o produtor está deixando de lucrar.
Uma das maneiras de saber se existem casos de mastite subclínica no rebanho é por meio da contagem de células somáticas no leite ou também por meio do teste CMT.
É importante que o produtor saiba como está o desafio de mastite subclínica na fazenda por vários motivos; entre eles, saber se suas vacas estão sendo infestadas por bactérias ou se elas estão tendo que responder com o aumento de CCS. Merece destaque saber se as vacas estão com alta CCS, pois assim é possível mensurar quanto dinheiro o produtor está deixando de ganhar. Uma das ferramentas para o produtor fazer essa investigação é por meio da realização do CMT na própria fazenda. Esse teste consiste na colocação do reagente do CMT na raquete, a fim de que ele reaja com o leite. A mistura irá então diagnosticar o estado da infecção. Nesse estágio é importante a análise por um técnico especializado. Se a reação for clara, a vaca estará limpa. Porém, se a reação originar uma espécie de gel, isso quer dizer que o leite está com alta CCS, significando mastite subclínica naquele peito. Nesse caso, o produtor pode optar se irá tratar desse animal ou se ele ficará por último na linha de ordenha. A decisão parte da análise do técnico e o teste serve como parâmetro.
Quanto mais cedo os casos de mastite forem diagnosticados e o tratamento iniciado, maiores as possibilidades de controlar perdas produtivas e econômicas. Nesta hora, o produtor deverá fazer a escolha certa utilizando produtos capazes de recuperar mais rápido o animal e com o menor tempo de descarte do leite.
Ao iniciar o tratamento, o pecuarista deve investigar qual o agente que causa a mastite em sua fazenda. Dessa forma, poderá optar por fazer exames de cultura, a fim de conhecer qual o antibiótico exato para utilizar, ou então lançar mão de antibióticos de largo espectro, que é o recomendado. Tais produtos são contra vários agentes, atingem bactérias gram-positivas, gram-negativas, mastite contagiosa e mastite ambiental. Consistem num tratamento mais rápido, pois o produtor tem que combater a bactéria, almejando que a vaca fique logo curada. Assim, ela voltará mais rápido a produzir.
Outras orientações importantes envolvem, além da escolha de um antibiótico de qualidade e um intra-mamário eficaz contra essas bactérias, deve-se respeitar a posologia, ou seja, aplicar a bisnaga com um intervalo de 12 ou 24 horas, de acordo com o recomendado para cada produto, e repetir por algum tempo. A aplicação de uma única bisnaga é ineficaz, é necessária a aplicação durante cerca de três dias, que é o tempo que o antibiótico precisa para agir contra todas as bactérias. Além disso, deve-se observar a higiene na hora de introduzir a cânula. A higienização antes é recomendada no sentido de evitar maiores contaminações. Essas são orientações para as quais o produtor deverá se atentar e seguir de acordo com o protocolo determinado após a avaliação da gravidade da mastite. Ao fim do tratamento correto invariavelmente haverá sucesso na cura clínica da vaca.
Custo
Importante destacar que o produtor deverá escolher o antibiótico não apenas pelo preço, mas, principalmente, pelo período de descarte do leite, que deverá sempre ser respeitado. Nesse sentido, aplicar um antibiótico mais caro, mas que possui menor tempo de descarte significa o retorno mais rápido da vaca à plena produtividade – e isso irá refletir nos lucros da fazenda.