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A desmama de bezerras de leite é um período estressante que merece total atenção por parte dos pecuaristas, principalmente por ser diferente da desmama das bezerras de corte. A maior diferença está no valor do leite para a propriedade. Nas fazendas de corte, a principal moeda de troca é o bezerro. Assim, ele permanece com a mãe e geralmente é desmamado de acordo com a idade, entre seis a oito meses de vida. Para as fazendas de leite, esse produto vale muito, pois é a principal moeda de troca.
Dessa forma, a desmama deve ser precoce para levar mais leite ao mercado. Em algumas fazendas esse processo é feito ou pela idade, em torno de dois meses de idade, ou pelo consumo de concentrado, sempre pensando em se ter mais leite pra disponibilizar ao mercado.
Vantagens da desmama precoce
De acordo com um estudo feito pela Embrapa, as maiores vantagens da desmama precoce são as reduções no custo da alimentação, da mão-de-obra e a não-ocorrência de distúrbios gastro-intestinais.
Segundo esse levantamento, uma das opções para a realização da desmama é quando a bezerra estiver consumindo de forma consistente entre seiscentos a oitocentos gramas de concentrado por dia. Nessa fase, o animal ela estará pronto para passar pela desmamada independentemente de sua idade, tamanho ou peso.
O leite é o principal alimento da bezerra até o seu trigésimo dia de idade, tanto pelo seu valor nutricional quanto pela sua facilidade digestória. Em função disso, é possível a partir do trigésimo dia desmamar as bezerras, mas outros critérios também podem ser adotados, como, por exemplo, a idade, para bezerras entre sessenta a noventa dias de vida; e o peso, para bezerras entre oitenta a noventa quilos de peso vivo. Nas propriedades que realizam a ordenha com o bezerro ao pé, os critérios adotados pelos pecuaristas para promover a desmama das bezerras devem ser o manejo da propriedade e a própria produção da vaca.
Ainda segundo o estudo da Embrapa, independentemente do sistema de criação adotado, não há razão, do ponto de vista da bezerra, para o fornecimento da dieta liquida ser superior a oito semanas. A recomendação é que a desmama seja feita de forma abrupta, ou seja, sem que haja a redução gradativa da quantidade de leite oferecida às bezerras.
O que deve ser levado em conta para obter bons resultados
O principal critério a ser adotado é o consumo de alimentos sólidos, mais especificamente o concentrado. Ele, ao passar pelo rúmen, sofre um processo de fermentação, o que acaba estimulando o desenvolvimento do rúmen, do retículo e do omaso, que são os pré-estômagos desses animais. Somente depois de bem desenvolvidos e funcionais é que esses pré-estômagos conseguem dar condições adequadas para as bezerras absorverem todos os nutrientes dos alimentos sólidos – é a partir desse momento que os animais podem ser chamados de ruminantes.
Muitas práticas são adotadas no sentido de estimular o desenvolvimento do aparelho digestório das bezerras. Uma delas é a partir do terceiro dia de idade incentivar o consumo do concentrado à vontade até o seu terceiro mês de vida, e findado esse período, o consumo deve ser limitado a aproximadamente dois quilos por animal ao dia.
Para contabilizar esses valores, um exercício simples é pesar a bezerra ao nascer e logo após o seu desaleitamento. Na sequência, calcula-se o ganho de peso médio diário levando em conta que esse aumento deve ser superior a trezentos e cinquenta gramas por dia.
Outra recomendação é que as bezerras depois de desmamadas permaneçam no mesmo piquete por mais duas semanas recebendo água e concentrado. Dessa forma, será possível observar como elas irão reagir à desmama e com certeza irão sofrer menos estresse.
É importante destacar que não é recomendado associar a desmama com outros tipos de manejos, como vacinação, descorna e mudança da dieta. O indicado é deixar as bezerras no mesmo pasto e no mesmo piquete onde elas já estão, por um período de aproximadamente dez dias. Além disso, as bezerras que já atingiram uma idade onde se alimentam com quantias suficientes para já serem desmamadas, se por ventura estiverem doentes, com diarréia ou pneumonia, por exemplo, deverão ser mantidas com a dieta líquida, só se procedendo à desmama após a recuperação. Esses detalhes são suficientes para realizar uma desmama bem feita na fazenda e sem estresse.
O sucesso ou a falha na criação das bezerras depende, em grande parte, do manejo empregado no cuidado desses animais. E, ao contrário do que muitos pensam, interações positivas entre as bezerras e as pessoas que delas cuidam são sempre muito bem-vindas. Mudanças simples de instalações e o manejo de forma racional podem melhorar as condições de vida das bezerras leiteiras, com reflexos positivos não apenas na saúde, mas também na taxa de sobrevivência e na vida produtiva futura.
Manejo nutricional para o desenvolvimento do rúmen das bezerras
O ideal é que a bezerra, já nos primeiros dias de vida, receba o leite e um concentrado. Quanto mais rápido ela forçar essa ingestão de concentrado, mais rápido ela se tornará ruminante e mais cedo poderá proceder à desmama.
Existem dois tipos de concentrado: o farelado e o peletizado. Se forem feitos com bons ingredientes, os resultados serão basicamente o mesmo para ambos. O que deve se tomar cuidado é com os farelados muito finos, pois estes podem levar a problemas respiratórios, diminuindo, assim, o grau de desenvolvimento da bezerra.
A capacidade de absorção dos nutrientes ingeridos depende da formação das papilas ruminais, que são projeções do rúmen que aumentam a área de absorção dos nutrientes que foram formados na fermentação dos alimentos. Uma bezerra, quando nasce e está ingerindo apenas leite, possui um rúmen liso, e deve ter suas papilas desenvolvidas.
A escolha da dieta poderá tanto ajudar quanto atrapalhar no desenvolvimento das papilas. O ideal é que as bezerras tomem leite, tenham água sempre à vontade e ingiram um concentrado de boa qualidade, que é o principal fator no desenvolvimento das papilas. A forragem é outro item que também pode ser levado em conta.