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Estrutura hospitalar para cirurgia ortognática
Não são todos os hospitais que têm a estrutura física adequada para serem realizadas as cirurgias ortognática.
Equipe de anestesia
Para realizar uma cirurgia ortognática, a equipe de anestesia do hospital tem que ter experiência com esse tipo de procedimento cirúrgico. A cirurgia ortognática é, quase em sua totalidade, feita por dentro da boca, e a equipe de anestesia precisa da boca, do nariz e toda a região facial para manter o paciente respirando e saudável durante todo o procedimento cirúrgico. É extremamente importante que a equipe de anestesia esteja treinada e trabalhando em conjunto com os cirurgiões que executam a cirurgia.
Tamanho da sala de cirurgia
Como são muitos profissionais que estarão realizando o procedimento e circulando em volta da sala para fornecer todos os equipamentos necessários para realização da cirurgia, a estrutura da sala tem que ser um pouco maior que a de uma sala convencional, para que se consiga trabalhar de maneira adequada e sem contaminar a região que está sendo operada ou a mesa cirúrgica, onde ficam todos os instrumentais e equipamentos necessários para realização dos procedimentos cirúrgicos.
Equipe de UTI
O ponto mais crítico para ser avaliado na escolha do hospital para a cirurgia é saber se o hospital possui a chamada UTI, Unidade de Terapia Intensiva. É necessária uma equipe de UTI treinada e preparada, pois nunca se deseja que ocorra algum tipo de intercorrência mas, se ela vier a acontecer, deve-se ter o suporte hospitalar para reverter e estabilizar totalmente o quadro para que o paciente não passa por nenhum risco desnecessário.
Uma equipe de UTI treinada, que saiba trabalhar em conjunto com a cirurgia buco-maxilo e com o serviço de anestesia é extremamente importante.
Equipe de enfermagem
A equipe de enfermagem também deve ter experiência no cuidado e no tratamento, tanto pré-operatório quanto pós-operatório, da cirurgia ortognática. No pós-operatório imediato, o paciente estará bem inchado, terá acabado de acordar e voltado do procedimento cirúrgico. São vários cuidados, e uma equipe de enfermagem já habituada a esse tipo de procedimento poderá auxiliar o paciente a passar por essa fase de maneira mais tranquila e satisfatória, sem grandes traumas, percalços ou dificuldades.
Deve-se conversar com o cirurgião, com a pessoa que realizará a cirurgia, se todos esses detalhes foram avaliados e pensados.
Cirurgia Ortognática no Hospital Pedro Ernesto
No Hospital Pedro Ernesto, da UERJ, existe um serviço de referência para cirurgia ortognática. É um serviço que faz a área de cirurgia e traumatologia bucomaxilofacial, cuja principal área dentro da cirurgia é o tratamento das deformidades dento-faciais, que são pacientes que apresentam prognatismo ou retrognatismo. O paciente pode procurar os serviços nos dias de atendimento. É feito uma avaliação inicial, são pedidos os exames necessários e, caso o paciente ainda não tenha um ortodontista, ele é encaminhado para um. É feito um trabalho simultâneo junto com o ortodontista.
Há pessoas que ouviram falar muito bem do Hospital Pedro Ernesto, que tem alguns dos melhores cirurgiões e é público, do SUS. Os pacientes tem que fazer um acompanhamento com um odontologista que determina o momento certo para fazer a cirurgia, para ter os dentes “certinhos”.
O paciente usa um aparelho fixo convencional até o momento em que apresenta uma mordida, uma oclusão, correta, e já pode ser submetido à cirurgião. Por ano, são realizadas cerca de 150 a 200 cirurgias.
O trabalho da fonoaudiologia nesses casos é dar mobilidade, acomodar a musculatura, para que ela possa fazer as funções de mastigação, deglutição, sucção e articulação da fala. Basicamente, é feita uma massagem onde são pegas as estruturas intraorais e extraorais, dando mobilidade, soltando o edema e toda a fibrose, que é a cicatrização da cirurgia. Também vai sendo feita a mímica facial para que o paciente possa fazê-la em casa, para que ele possa mexer a musculatura da face. Em todo esse trabalho de massagem, mobilidade e acomodação da musculatura, é verificado como estão as funções do paciente, e o caso é finalizado, reabilitando-o totalmente.
Há pacientes que fizeram a cirurgia há duas semanas e consideraram um sucesso pois, depois que acordaram, viram o resultado que sempre quiseram ter em suas vidas, os dentes todos perfeitos.
Para algumas pessoas a cirurgia parece complexa. As técnicas operatórias se desenvolveram ao longo dos anos e são feitas por dentro da boca. O maior avanço que se teve é que em nenhum paciente se veem cicatrizes na face. Hoje, as técnicas anestesias são muito favoráveis, o paciente tem uma recuperação mais rápida. As técnicas sendo feitas dentro da boca também facilitam muito a recuperação do paciente.
Duração da cirurgia
O tempo de cirurgia varia entre 2 a 4 horas dependendo da complexidade do procedimento. A grande vantagem é que, com esse tempo de cirurgia, o paciente consegue ter alta hospitalar um ou dois dias depois. Não é uma interação muito prolongada. Sabe-se que o hospital não é o local mais saudável, e esses pacientes não são doentes – são pacientes saudáveis que entram para fazer um procedimento, e a intenção dos médicos é que entrem, operem e no dia seguinte, no máximo dois dias depois, possam ir para casa. Hoje é uma recuperação muito favorável, ainda que exista um desconforto, um edema que dura aproximadamente 4 a 5 semanas.
Existe um trabalho de acomodação muscular, porque as estruturas são mudadas de lugar. É diferente de, numa pessoa que quebrou a mandíbula, coloca-la no lugar, onde toda a musculatura está acostumada com aquela posição para onde a mandíbula foi devolvida. Em um paciente que tem a mandíbula fora do lugar, mexe-se com todo o sistema muscular e o sistema nervoso daquela região. Esse retorno funcional tem que ser lento, tem que ser feito, para que o paciente possa ter a sua função retornada de forma adequada.
O paciente tem que se acostumar com a nova posição do maxilar.
Recuperação
Hoje, a maioria dos pacientes saem com a boca aberta. Existem placas e parafusos de metal, de titânio, que são biocompatíveis, com os quais se pode fixar os ossos. Isso começou na ortopedia médica e foi para área da ortognatia, e é um grande avanço. Existe um grupo de pacientes, principalmente pacientes que têm algum grau de disfunção da articulação temporo-mandibular, que vão se beneficiar de uma cirurgia em que não haja nenhuma fixação. Pacientes que têm uma disfunção, muitas vezes, se forem colocados parafusos de uma placa que são rígidos, pode-se prejudicar a função dele, colocar um osso no lugar errado, e trazer um desconforto maior. Isso reduziu muito. Antigamente se deixava o paciente 6 a 8 semanas com a boca amarrada, hoje não passa de 3 semanas. Cm casos seletivos o paciente fica com a boca amarrada, o que não é um grande prejuízo para ele pois, estando com a boca amarrada, ele tem menos dor. Existe o lado negativo de ter que ficar com a boca amarrada, mas tem o lado positivo de que o processo álgico, o processo de dor, fica reduzido por isso.
Normalmente o paciente faz um preparo ortodôntico de aproximadamente 1 ano, prévio à cirurgia, que alinha os dentes para permitir a correção. O preparo não é para corrigir a mordida, é para botar os dentes em cima dos ossos, na posição certa. A mordida não é corrigida com o tratamento ortodôntico prévio, ela será corrigida com a cirurgia. Como a mordida está muito “descasada” antes da cirurgia, o ortodontista não consegue uma mordida ideal para o momento da cirurgia. Sempre fica faltando um pouco de refinamento, chama de “finalização ortodôntica”, que normalmente é de 4 a 8 meses de tratamento ortodôntico após a cirurgia.
Cuidados após a cirurgia
O paciente deve estar engajado em relação ao tratamento para que possa ter um cuidado integral e se beneficiar. Para fazer uma cirurgia dessas, o paciente não deve ser fumante, não cuidar dos dentes ou da gengiva, ter inflamações gengivais ou ter perdido muitos dentes por negligência. O paciente tem que ter o perfil, ser cuidadoso e envolvido, porque depois da cirurgia há um tratamento ortodôntico posterior. O paciente fica um pouco “enjoado” após a cirurgia, porque ele quer retirar o aparelho, pois já está bonito e com os dentes melhores, mas deve-se segurar, pois existe um refinamento necessário para que o resultado se perpetue. Depois que um paciente opera, o resultado que ele conseguir com 6 meses é para o resto da sua vida.
Como são pacientes jovens, muitas vezes adolescentes, as orientações são importantes. É um resultado que tem que ser duradouro. A pessoa não vai fazer um tratamento desses para perde-lo depois.
É feito trabalho psicológico com o paciente, explicando todas as fases do tratamento, para que ele tenha condições de saber o que está envolvido.
Benefícios da cirurgia
Há relatos de uma paciente que voltou ao hospital para controle, já de certa idade (além dos 47 anos, a idade convencional), que chorou na frente do doutor. Ela afirmou que nunca teve boca, que sua família inteira tinha lábio, arcada, mas ela não tinha boca.
O que se observa, além da parte funcional, é um ganho psicológico significativo dos pacientes. Há relatos de pacientes que, após a cirurgia, se motivaram e perderam 20kg. Muitas vezes a pessoa relata não ligar muito para isso, mas depois que corrige é um ganho muito grande.
Há relatos de um paciente operado há mais de 20 anos que enviou uma carta recentemente ao doutor dizendo que se sentia como Cyrano de Bergerac, que ele era estigmatizado mas, hoje, tem uma vida normal. Muitas vezes não é uma cirurgia que embeleza, mas que coloca o paciente na normalidade. Não é mais aquela pessoa que entra numa padaria e todos dizem que a pessoa é queixuda. Ela pode até não ser linda, mas passa a ser um ser humano normal em termos estéticos.
A face é um cartão de visita, e deve-se ter uma face que se gosta. As pessoas se veem todos os dias no espelho. Não se pode negar a questão estética. A questão funcional vem junto, mas são aspectos que trazem um ganho significativo para o paciente.