Brucelose: características
A brucelose é uma doença infecto-contagiosa que além de atingir os bovinos e outras espécies animais também pode ser transmitida aos seres humanos. É importante que o pecuarista se informe adequadamente acerca do processo de infecção, quais são os principais sintomas, e como preveni-la, englobando todos os cuidados que envolvem a vacinação e os detalhes sobre o programa nacional de controle e erradicação desta zoonose, além de ter ciência dos prejuízos econômicos resultantes dessa afecção.
Tal doença é causada por uma bactéria conhecida como Brucella abortus, que acomete principalmente as fêmeas em idade reprodutiva. A principal manifestação é o aborto, que ocorre porque a bactéria invade o útero do animal, onde irá colonizar e causar uma grave placentite necrótica, que culminará com o aborto. Em seguida, geralmente há retenção de placenta e metrite, que levam a um aumento do intervalo entre partos, ou seja, tem-se uma piora considerável nos índices reprodutivos das fazendas acometidas pela brucelose.
A suscetibilidade à doença varia de acordo com o sexo, com a idade e com o estágio reprodutivo do animal. Os animais sexualmente maduros e as fêmeas prenhes são mais suscetíveis que os animais sexualmente imaturos.
Meios de transmissão, diagnóstico, fatores de risco e prejuízos econômicos
Bovinos de todas as idades, raças e de ambos os sexos podem contrair a brucelose independentemente da estação do ano ou do clima da região. Mas são os animais na puberdade e os prenhes os mais atingidos pela doença.
Filhos de mães infectadas serão positivos até o quarto mês de vida. Isso se dá pelos anticorpos colostrais que são passados da mãe para o filho. Após essa idade, uma média de 9% desses filhos poderão ser positivos depois do primeiro parto.
A brucelose tem a via digestiva como o principal meio de contaminação. Água, alimentos, objetos e principalmente pastos contaminados com restos fetais procedentes de abortos e partos de fêmeas doentes são as fontes de infecção mais freqüentes. Todas as vezes que as vacas infectadas têm ou um parto ou um aborto é eliminada uma grande quantidade de bactérias. E essas bactérias, as Brucellas, continuam sendo eliminadas por até trinta dias após o parto. As vacas de uma forma geral têm o habito ou de lamber ou de cheirar restos placentários, um feto abortado, e isso acaba se tornando uma grande fonte de contaminação. Por isso é importante trabalhar com vigilância epidemiológica. Todos os restos placentários e restos de aborto devem ser retirados do pasto porque assim está se ajudando na prevenção da doença.
A participação dos touros na transmissão da brucelose pela monta natural é pequena. Já na inseminação artificial, um sêmen contaminado é altamente infeccioso. Na monta natural o touro deposita o sêmen na vagina da fêmea, e o pH vaginal não permitirá a proliferação da bactéria. Quando se faz uso da inseminação artificial o sêmen infectado é depositado diretamente no útero. E dessa forma, há um ambiente muito mais propício para a proliferação das bactérias. Por isso é fundamental que se adquira sêmen proveniente de firmas idôneas.
O sintoma mais comum da brucelose é o aborto no terço final da gestação. Outros sinais clínicos, como o nascimento de bezerros fracos ou natimortos, retenção de placenta, maiores intervalos entre partos, repetição de cio e esterilidade de fêmeas e machos também são problemas que podem estar relacionados com a doença.
O aborto é o sintoma mais comum e ocorre após o sexto mês por conta do eritritol, que é uma substancia que tem tropismo e atrai as bactérias para dentro do útero. Com o passar da gestação, após o sexto mês, essa substância acaba se acumulando dentro do útero, atraindo mais bactérias para dentro dele, e acontecendo, por fim, o aborto.
Para se diagnosticar a brucelose, é interessante a realização do diagnóstico clinico. Por exemplo, em touros: se neles é possível observar uma orquite em um ou nos dois testículos, automaticamente esses animais irão sofrer com a infertilidade e também diminuição do apetite sexual. Nas fêmeas também se trabalha com o diagnóstico clinico, mas o diagnóstico bacteriológico e o sorológico também se fazem importantes. Após se dar a identificação desses animais, eles devem ser isolados e sacrificados, sempre marcados com um “P” de Positivo no lado direito da face.
Estudos sobre a Brucelose bovina mostram que a doença é responsável por uma queda anual de 20 a 25% na produção de leite; de 15% na produção de carne e de 15% na produção de bezerros. Sem falar nas perdas genéticas e na consequente desvalorização do rebanho. Por isso, é imprescindível a monitoração dos fatores de risco, que são vários.
O primeiro deles, quando se trabalha em uma propriedade que é livre da doença, é o cuidado na aquisição de animais: somente se deve trazer animais sabidamente negativos para a brucelose. Outro fator importante é a vacinação dos animais. É obrigatória a vacina de todas as fêmeas de três a oito meses de idade com a vacina brucelina B19. Deve-se atentar também para a vigilância epidemiológica dentro da fazenda. Toda vez que houver casos de aborto, os restos placentários devem ser retirados do pasto para que não haja contaminação entre os animais. E no caso da descoberta de um animal positivo no rebanho, este deve ser rapidamente eliminado.
A legislação brasileira proíbe o tratamento de animais positivos para a brucelose. A prevenção da doença requer por parte dos pecuaristas a devida atenção aos fatores de risco e o cumprimento correto do programa de vacinação, obrigatório no país.
Contágio nos seres humanos
A infecção do homem pode ocorrer após a ingestão de alimentos provenientes de animais brucélicos, como por exemplo, o leite cru ou o queijo feito com leite cru. Os magarefes, que são os profissionais que trabalham nos matadouros, e por vezes acabam por lidar com carcaças de bovinos brucélicos sem a devida utilização de Equipamentos de Proteção Individual (EPI), por exemplo, também podem ser infectados. O produtor rural, o colaborador e o médico veterinário podem se contaminar quando lidam com restos de parição, restos placentários, ou ainda outros produtos de aborto onde há alta carga bacteriana. E há ainda o risco de contaminação quando da utilização da vacina, que é atenuada para a fêmea bovina entre três e oito meses, mas não é atenuada para o homem, o qual pode ser infectado num eventual acidente no momento da aplicação.
No homem, a brucelose é conhecida como febre de bangue, febre do mediterrâneo ou febre ondulante, porque a febre é justamente o principal sintoma. No entanto, pode vir acompanhada de calafrios, sudorese, dor de cabeça e dor nas articulações.
Sempre que houver suspeita de contaminação, seja por causa de um acidente com vacina ou pelo contato com um animal brucélico, é fundamental a consulta com um médico para que as devidas providências sejam tomadas.